Eles não trabalham, não estudam e acabam se perdendo no meio de tantas opções de “dinheiro fácil” que surgem nas comunidades em que vivem. Conhecidos como Nem Nens, o que se percebe no decorrer do tempo – considerando inúmeros fatores conjunturais é que muitos desses jovens têm suas habilidades desperdiçadas, mesmo sendo suficiente para alavancar a si mesmo e de muitos dos que estão ao seu redor (o chamado impacto indireto).
Dados estatísticos nos mostram que a cada ano mais e mais.
Ainda assim, dados estatísticos nos mostram que a cada ano mais e mais jovens em idade economicamente ativa se juntam a esses brasileiros que “nem” estudam e “nem” trabalham. Segundo a pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de todos os brasileiros que têm entre 14 e 29 anos - 20% (equivalente a mais de 10 milhões) não frequentam a escola ou fazem qualquer tipo de curso de qualificação profissional.
Abaixo a distribuição das pessoas com 14 a 19 anos de idade.
De acordo com os dados do IBGE, em 2015 o percentual de jovens “nem nens” foi de 22,5%, crescendo 2,5 pontos percentuais em relação a 2014 (20%) e 2,8 frente a 2005 (19,7%), o que no longo prazo pode significar o aumento da população em situação de rua, como mostra artigo de Heitor Wegmann publicado recentemente aqui sob o tema: Enxugando gelo? Em regra, a todos incomoda ver moradores de rua, vivendo debaixo de viadutos e marquises. Isso quando o destino são viadutos e marquises, pois quando pensamos nos índices do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) feito em 2015, os dados são bem desanimadores: 56% dos presos no Brasil tem até 29 anos e o grau de escolaridade de 53% dessa população é de ensino fundamental incompleto.
É possível identificar uma luz no fim do túnel no médio e longo prazo.
Entretanto – mesmo com cenário tão crítico é possível identificar luz no fim do túnel no médio e longo prazo. Considerando o novo ensino médio que passa a ter algum significado para esses jovens e a responsabilidade social de gestores de grandes empresas que investem na qualificação profissional de jovens economicamente desfavorecidos, é possível que uma mudança de cenário nos traga dados estatísticos mais otimistas no futuro próximo.
Quanto ao novo ensino médio - Medida Provisória nº 748/2016 sancionada pelo presidente da República em fevereiro de 2017, algumas mudanças colaborarão com a retenção desses jovens na escola, ampliando inclusive a empregabilidade de cada um. Nesse novo formato, a Base Nacional Comum Curricular - BNCC (documento que define os objetivos que devem ser levados em conta na hora de elaborar o currículo da Educação Básica) fará parte de apenas 60% das matérias estudadas em sala de aula. O restante ficará reservado para uma das áreas específicas, o que dará a oportunidade de os estudantes escolherem a área que tem interesse em se aprofundar já no início do ensino médio.
Outro dado positivo além da ampliação das 800 horas para 1.400 horas - equivalente a sete horas diárias é que o Ensino Médio poderá ser organizado em módulos, adotando o sistema de créditos que poderão ser usados para o aproveitamento de disciplinas no ensino superior, estimulando com isso a continuidade dos estudos.
Segurar os jovens nas escolas, alavancando a sua empregabilidade.
Levando em conta que essas mudanças só serão implementadas ao longo dos próximos anos, como fazer para segurar os jovens nas escolas alavancando a sua empregabilidade? A resposta para essas e outras perguntas está nas mãos de belas iniciativas (projetos de educação não formal) de empreendedores socialmente responsáveis que investem algum tipo de recurso na qualificação de jovens – seja financiando a qualificação, seja contratando esses alunos ao final do curso ou, simplesmente, contribuindo com a formação por meio de palestras e ou bate papos que que possam enriquecer o currículo de cada um dos beneficiados pela ação.
No início dessa década um grande investidor privado, já preocupado com esse cenário, me fez o convite para fazer ajudá-lo na gestão de uma iniciativa de cunho social. Além do alto índice de conclusão do curso, dentre os que que evadiram muitos foram absorvidos pelo mercado de trabalho.
Alocar recursos próprios para o bem-comum, mas de forma eficiente
O Brasil – mesmo que os telejornais não nos mostrem, ainda conta com pessoas e organizações que continuam acreditando em um futuro melhor. São pessoas que escolheram, voluntariamente, alocar recursos próprios para o bem-comum, mas de forma eficiente. Para tanto procuram as melhores estratégias para definir seus focos e formas de atuação que incluem projetos bem estruturados com avaliação de resultados para transformar a sociedade e, assim, alcançar a melhoria sustentável da qualidade de vida do beneficiário ou de sua comunidade.