Terça, 29 Mai 2018 14:59

Coletivo Horta Nossa ocupa praças públicas de forma sustentável no Rio de Janeiro

Dafne Rozencwaig, Lucas Gouvea e Alexandre Gnattali do Coletivo Horta Nossa em pleno cultivo em uma das praças

Imbuídos dos ideais agroecológicos, o Coletivo Horta Nossa tem como proposta realizar a recuperação dos solos degradados, tornando-os férteis e produtivos através do manejo ecológico e sustentável

Por Coletivo Horta Nossa

O Horta Nossa é uma proposta de quebra de paradigmas. O coletivo sugiu, em 2013, a partir da insatisfação de um grupo de estudantes em relação ao estado de abandono e disfunção dos canteiros e praças da cidade do Rio de Janeiro. Diante de uma grande quantidade de terrenos urbanos improdutivos, temos como objetivo promover o bem estar através da reapropriação e da ressignificação dos canteiros públicos da cidade com a instalação de hortas urbanas coletivas e comunitárias.

O primeiro local de atuação ocorreu em um canteiro na Rua Pinheiro Machado localizada no bairro das Laranjeiras, porém devido ao grande fluxo de carros e ao difícil acesso, mudamos o lugar para a Gávea, na esquina das ruas São Clemente com a rua Vice-Governador Rubens Berardo. Atualmente o coletivo atua na Praça General Alcio Souto no sub-bairro da Fonte da Saudade. No passado, o modelo de plantio implementado era basicamente o tradicional, sem embasamento teórico por detrás. A partir da convivência e do contato na PUC-Rio, o coletivo se se fortaleceu e desenvolveu uma rede teórica baseada nos princípios agroflorestais. A partir da leitura mais atenta da paisagem, compreendeu-se as limitações do canteiro na Gávea, dando início ao processo de adubação verde com plantio de espécies fixadoras de nitrogênio (feijões e vagens). Tais culturas leguminosas, ao se desenvolverem, são utilizadas como fonte de matéria orgânica a ser incorporada pelo próprio sistema como serrapilheira. Posteriormente, iniciamos o plantio de espécies mais longevas. Todo o manejo, movido por princípios agroflorestais, pôde ser realizado sem a entrada de insumos químicos ou aporte de água.

Imbuídos dos ideais agroecológicos

Imbuídos dos ideais agroecológicos, o coletivo tem como proposta realizar a recuperação dos solos degradados, tornando-os férteis e produtivos através do manejo ecológico e sustentável. Consideramos as singularidades de cada local, seja em relação à dinâmica social ou à interação clima-solo-topografia. Nesse sentido, pratica-se um sistema de plantio consorciado entre culturas agrícolas (hortaliças, ervas, verduras e legumes) e culturas florestais (árvores frutíferas) com destaque ao reconhecimento e ao cultivo de PANC’s (plantas alimentícias não convencionais). Além disso, existe na horta da fonte uma espécie nativa brasileira preservada, o lindo ipê amarelo.

Logo, mais que uma horta comunitária, o movimento Horta Nossa busca construir lugares de encontro e de aprendizado, onde se troca saberes e se apura os sentidos. Acima de tudo, significa uma nova forma de ser e de estar nas grandes cidades, uma nova lógica de ocupar e ressignificar as ruas e calçadas por onde andamos apressados. Ao plantar e colher um alimento de qualidade em meio ao frenesi dos grandes centros urbanos, provamos para nós mesmos que antes de consumidores desenfreados, somos potenciais criadores de vida para o planeta. Essa é revolução nossa de cada
dia.

Ecologia de interações

A maior atividade criativa será reinventarmos a própria textura cotidiana, a ecologia de interações, como e com o quê interagimos. Alterar o modo que nos reapropriamos da cidade e como elaboramos o nosso próprio processo de construção. Se modificamos esse modo, transformamos a cidade e nossos hábitos, produzindo uma urbanidade mais interessante, humana e justa. A disseminação de conteúdos e espaços pré estabelecidos por uma estrutura vertical de gestão é superada, dessa forma, por uma construção aberta, polissêmica e colaborativa. A experimentação concreta com co criação e democracia através da implementação de hortas urbanas comunitárias e coletivas.